Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

CERTEZAS...

CERTEZAS...

Às vezes fico pensando em como atualmente tenho dificuldades com 'certezas absolutas'. Esse termo (certezas absolutas) me deixa com a sensação de algo imutável, pétreo. E hoje posso dizer que poucas coisas na minha vida tem esse peso. Lógico que tenho certezas, mas são tão poucas... Uma delas é o amor que sinto pela minha família. Não acredito que mude...

Já vivi a dicotomia 'certo' x 'errado', ou se preferirem 'preto' ou 'branco'. Vivia como se não existissem os meio certo/errado ou as nuances de cinza... Era mais nova e cheinha de certezas... A vida me ensinou que nem sempre as coisas são tão dicotômicas, uma coisa nem sempre é só branca ou só preta. Ela é uma mistura generosa de cores e tons, que nos alegram e surpreendem.

Como um dia que estava em um ônibus (cheio, para variar). Em um banco um pouco á minha frente estava um homem bêbado. Visivelmente bêbado, fazendo barulho, incomodando. Pensava com 'meus botões' como é que uma pessoa nesse estado pode entrar em um ônibus e ocupar uma cadeira. Mas aí uma senhora idosa entrou no ônibus. Eu estava em pé e vi claramente qdo cabeças se moveram para as janelas. Pessoas que estavam sóbrias e claramente cientes de seus atos fingiram não ver a cabeça branca da idosa. Mas o bêbado, quase pária desse ambiente, e que era reprovado por boa parte do ônibus (inclusive por mim), simplesmente se levantou e cedeu o lugar. A idosa, vendo o estado do rapaz embriagado (ele balançava e eu achava que ele podia cair em cima de alguém), agradeceu a gentileza e disse para o rapaz sentar. Ele não aceitou e disse para a senhora sentar. Que era direito dela e a mãe dele (é ele tinha mãe!) ensinou a respeitar os mais velhos. A senhora sentou e ele ficou tentando se segurar como dava....

Esse fato me fez pensar nos tons da vida... Não somos só uma coisa ou outra... Somos uma mistura de tons que vão se desvelando a cada momento.

Quando entrei no ônibus e vi o homem bêbado, tinha certezas sobre ele. Certezas essas que se desfizeram por causa de um ato limpo, honesto. Ele fez, mesmo embriagado, o que muitos não fazem sóbrios. Ele me mostrou os tons de cinza misturados ao branco e ao preto. Um ser humano ímpar!

Hoje prefiro pensar na minha vida como inundada por uma gama indescritível de tons. E o melhor é que posso passar  minhas 'certezas' (não tão 'absolutas') de um tom para o outro, sem que isso me deixe insegura. Um dia tenho mais certeza em determinado ponto, depois isso muda e a certeza vai diminuindo (e eu mudando a tonalidade da certeza, carregando mais ou menos no claro/escuro).
Tenho 'certezas', mas elas são, na maioria, volúveis. Acho tão bom isso... Mudar o tom da certeza me deixa livre para passear entre as verdades que o mundo me apresenta.