Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

O primeiro dia

Como é o primeiro dia de uma professorinha?

Eu pensava que ia chegar na escola, me apresentar, saber quais as turmas e ter tempo de preparar as aulas.

Isso EU pensava. Mas não foi bem assim que tudo aconteceu.

Lembro como hoje: cheguei na escola no dia 28 de novembro de 1990. Era o horário do recreio (à tarde). A diretora estava cheia de coisas para resolver e, assim que me recebeu, foi logo disparando: "Os alunos não tiveram uma aula de Ciências esse ano. Você vai ter que dar 180 horas aula." Caí sentada na cadeira, provavelmente de boca aberta. Como dar 180 horas/aula se o ano estava terminando?

Mal sabia eu que começava minha carreira conhecendo um fator importantíssimo na educação: 'mágica'!

Mas a diretora não parou por aí. Disse que era melhor eu começar logo naquele dia, assim que terminasse o recreio, pq era menos um dia letivo para repor... Eu quase caio da cadeira.

A diretora vendo meu desespero, tentou me acalmar. Me deu livros das séries que eu iria lecionar (7ª e 8ª) e me levou para a sala dos professores. Lá conheci pessoas que marcaram profundamente minha vida. Professores e Professoras que merecem ter seus nomes escritos com letras maiúsculas. Eram pessoas que faziam muito mais que apenas lecionar, suas aulas eram verdadeiras lições de vida.

Depois fui literalmente 'jogada aos leões'. A diretora me levou às minhas turmas. Lá fez as apresentações de praxe, e fui deixada na turma que teria aula naquele horário.

Como eu estava? APAVORADA!!!

Aquelas criaturinhas pareciam que iam me morder. Ouvi diversas reclamações dos alunos. Estavam furiosos (e com razão). Era a última semana de aula deles. A semana seguinte seria das provas da última avaliação.

Mas, como não tinha jeito, tentei conversar com os alunos e alunas explicando que eu não tinha culpa dessa demora.

Depois de um tempo, fui falando dos conteúdos, explicando o que veríamos em sala e os trabalhos que eles teriam que fazer para que eu pudesse justificar as notas (eram oito avaliações).

Ah, sim. Na sala dos professores, o vice-diretor me explicou que eu usaria 'módulos' para cobrir todas as aulas. Professores e Professoras foram pacientes, me explicaram como assinar os módulos, que deveria deixar os trabalhos dos alunos (corrigidos) nas pastas deles, e assim fui me acalmando um pouco. Era possível fazer 'mágica'. E a 'mágica'tinha até nome: "módulo'...

Meu primeiro dia terminou, e surpreendentemente (para mim), não morri. Não cheguei nem perto de ficar doente. Depois dos primeiros minutos de revolta, as conversas foram mais amenas e conseguimos chegar a um bom termo.

Vi que os alunos eram alegres, participavam, e que nem sequer mordiam....

Foi o início desse vício que me embriaga até hoje: lecionar.