Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Pandemia

Hoje é 1 de maio de 2020. Dia do trabalho. No ano mais atípico da minha vida. Nunca senti tanta falta de estar na escola, na sala de aula. Com meus anjos. Tudo por causa da pandemia de Covid-19.

Tenho pensado muito em escrever aqui minhas impressões sobre a pandemia que estamos vivenciando. Algo tão forte que parece um pesadelo. Mortes aos milhares em quase todo o mundo.

Vivemos dias de incertezas. Será que o vírus pode ser transmitido para/pelos nossos animais domésticos? Quem já ficou curado, pode ter novamente a doença?

E depois? O que vamos encontrar? Como vamos agir ao longo dos próximos meses e anos?

Li um texto que falava algo preocupante: o vírus deve continuar infectando (espera-se que cada vez menos) até 2025. Cinco anos com ondas de infecção.

E nós, pequenos humanos, sem norte, sem a mínima noção do que esperar e como agir. Nunca foi tão complexo planejar algo. Coisas como abertura de comércio, são decididas a cada novo dado. Volta-se atrás em uma decisão de abrir o comércio do dia para a noite.

E quando pensamos nos dados do Brasil sobre a pandemia... Insuficiente não é uma palavra que possa descrever o que está acontecendo. É grotesca a  falta de testagem e dados confiáveis. O que vivemos é um completo tiro no escuro. Tateamos. Não vemos. Percebemos pequenos vultos.

Os dados que podem nos dar uma ideia do que está acontecendo vem do número de óbitos por infecções pulmonares. O aumento em relação ao ano passado é astronômico. E isso sem levar em consideração outras mortes que foram causadas indiretamente pela Covid-19. Porque algumas pessoas que precisaram de atendimento em UTI (um acidente, um AVC,...) não puderam ter. Porque muitas UTI estão lotadas.


Tem outra coisa que me preocupa: a volta à escola. Vamos voltar, daqui a 2, 3 meses. E qual será o cenário? Todos sobreviveremos? Que marcas essa pandemia vai deixar nas nossas almas. Que dores vamos levar conosco?

Trabalhar em uma escola de bairro traz outra preocupação: tenho alunos e alunas que são parentes. Primos e irmãos que convivem de forma bem próxima. Conhecemos as famílias. Sei quem são os responsáveis (pais, mães, avós, avôs, e outros parentes) das crianças.

Será que algumas das minhas crianças vai perecer? E se isso acontecer, como fazer com aquele outro(a) aluno(a) que está vivo. Como retomar uma rotina na qual talvez um irmão ou irmã mais novo(a) não esteja mais na escola? Como ficará aquele aluno(a) mais velho(a) sem a presença da sua companhia para casa após a escola? E aquele que perder um pai, uma mãe,...

Espero sinceramente que nada disso ocorra. Mas pretendo contar aqui as coisas que forem acontecendo.

Finalizo com uma frase do Padre Júlio Lancelotti: "Se nesse mundo excludente você não tiver uma dose de rebeldia, é porque se adaptou a esse modelo."

Mesmo (e principalmente) durante essa pandemia precisamos nos revoltar com as injustiças. Com as dores daqueles que estão tão à margem dessa sociedade, que podem cair no precipício da morte. Não, essas pessoas não caem. Elas não são de desistir. Mas são arrastadas pera o precipício por humanos que não possuem humanidade. Quantos povos indígenas estão sendo dizimados? Não só pela Covid, mas também pelos grileiros, fazendeiros e até de alguma forma por nós, que assistimos passivos às suas mortes.

Pessoas em condição de rua tbém estão no rol das 'vidas descartáveis'. Porque embora nossa sociedade não admita, algumas vidas valem menos que outras. Vidas pobres, negras, Lgbts, indígenas, aparentemente tem menos valor. Importa-se menos com a morte dessas pessoas.

Quando nossa indignação vai deixar de ser seletiva? 

Precisamos pensar mais em como vamos sair dessa Pandemia. Entendendo que todos estamos no mesmo planeta e dependemos uns dos outros ou evitando olhar a dor do outro?