Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Mimeógrafo


Trabalhar em uma escola da periferia de Aracaju não é fácil. Faltava tudo. Desde giz (isso a mais ou menos 20 anos atrás, década de 90 do século XX, para ser mais clara) até papel para prova.

Para os(as) professores(as)mais novos o que vou contar pode parecer coisa de outro mundo, irreal. Mas era tão comum...

Nossas provas (e qualquer atividade que passássemos na escola) não eram xerocopiados. A gente usava o mimeógrafo à àlcool (tinha um à tinta, que eu só vi na segunda escola na qual trabalhei). Mesmo comunicados aos pais eram mimeografados. Xerox era luxo. E muito caro...

Sabem o que é mimeografar um texto ou desenho? É pegar uma folha de stencil (com uma tinta roxa que deixava nossas mãos arroxeadas por dias) escrever na parte própria para tanto e levar essa parte que foi escrita para o mimeógrafo. Aí a gente rodava uma manivela e ia colocando papel ofício no mimeógrafo. No mimeógrafo tinha um lugar para colocar o álcool. O álcool servia para que a tinta que estava no stencil passasse para o papel ofício. Quando a gente rodava a manivela, o papel entrava por um lado, rodava no cilindro onde estava a matriz (stencil escrito) e saía do outro lado com a cópia do que estava na matriz. Achei na net um vídeo que pode explicar melhor...
https://www.youtube.com/watch?v=cHHW95JSH5E

Mas como eu disse a escola nessa época era pobre. MUITO pobre. A gente precisava economizar stencil, que era caro. Aí aproveitávamos todo o pedacinho de stencil. Usávamos um mais de uma vez. Aprendi com minhas colegas dessa escola que a folha que vem no meio do stencil (para evitar que o carbono do stencil se danificasse) era ótima para escrever novamente. Pq a folha apropriada a gente usava uma vez, escrevia nela e usava para tirar as cópias que queríamos. Mas qdo precisávamos de mais folhas, aí a coisa enrolava. A direção da escola racionava o stencil. Então, para 'multiplicar os pães' (nesse caso as folhas de stencil) nós usávamos um mesmo carbono mais de uma vez...

Perguntei hj a uma colega se ela chegou a usar essa folha intermediária do stencil para 'aproveitar' o carbono. Ela confirmou. Pobreza generalizada. Era uma época na qual a escola não recebia os recursos direto do governo federal, como hj em dia. O dinheiro vinha para a secretaria de educação e lá eles compravam o que queriam e na quantidade que achavam certo. O que nem sempre atendia às reais necessidades da escola.

Outra coisa que aprendi sobre mimeógrafos: a gente podia 'raspar' com uma lâmina de gilete a parte de trás do stencil qdo errássemos algo. Não ficava muito bom, mas era melhor que riscar ou copiar tudo de novo, até pq não havia stencil para isso...