Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Saindo da primeira escola

Porque eu sairia da minha primeira escola ? Os colegas eram legais, participavam, não atrapalhavam as maluquices que eu e outras/os inventávamos... Era tudo bom. Menos a direção.
Nessa escola passei 7 anos. Durante esses 7 anos tivemos 12 diretores. alguns bons, outros nem tanto. Ia levando tranquila, trabalhando e fazendo o que podia.

Mas meu avô estava bem doente. Uma infecção séria estava deixando a todos da família muito preocupados. Vovô ia fazer 90 anos, e já estava esquecido. Não sabia nem pedir água. Vivia vegetando em uma cama.

Dia 22 de dezembro de 1997: saí da escola como o habitual. estávamos na semana de recuperação final. Dei minhas aulas e a prova estava marcada para o dia seguinte. Sabia que mamãe (filha desse meu avô) estava na casa dele. Comentei com Madalena (aquela minha amiga, professora de História), que iria passar na casa de vovô (era caminho para minha casa) e ver se mamãe precisava de algo.

Chegando na casa de vovô, mamãe me disse que ele estava melhorando, que eu fosse para casa, fizesse o jantar e desse para minhas irmãs. Foi o que fiz. Mamãe voltou para casa lá pela meia noite.

Às 6 horas da manhã do dia 23 de dezembro recebemos a notícia do falecimento de vovô. Mamãe estava desolada. Liguei para Madalena e pedi que avisasse na escola. Liguei para a escola e avisei. Quem trabalha em escola publica sabe que nem sempre dão recado. Por isso pedi a Madalena que reforçasse meu aviso e que dissesse aos alunos que estavam em recuperação comigo que eu faria a prova na semana seguinte (pq o dia seguinte, 24 de dezembro, não tinha aula).

Fui para velório, enterro... Depois ficamos na casa de uma tia. Foi um natal bem triste.

Na semana seguinte, fui para a escola, acertar as datas das provas com os alunos. Lá, fui recebida com diversos 'elogios' vindos da diretora: 'irresponsável' foi o mais delicado. Por causa da minha falta, o calendário da escola estava atrasado. Só que eu tinha direito a faltar para ir ao enterro de meu avô.

A diretora me tratou como uma professora relapsa e faltosa. Disse inclusive que não daria meu contracheque enquanto eu não colocasse as notas nos diários. Ela comprou briga com a pessoa errada. Fiquei caladinha, mas pensei como dar o troco. Chamei os alunos, fiz outra revisão (para matar ela de raiva) e marquei a prova. Fiz a prova, corrigi e coloquei as notas nos diários. Assim que terminei, fui na Secretaria de Educação e contei o acontecido. Falei que não queria ficar mais na escola. A pessoa que me atendeu disse que eu estava coberta de razão, e que eu pegasse com a direção um documento para sair de lá.
Fui para a escola no dia seguinte, e pedi que a diretora assinasse o documento. Ela fez de tudo para que eu não saísse. Mas fui firme, depois do que ela disse não dava mais para ficar lá. Ela me deixou esperando uma tarde inteirinha, mas assinou o documento.

Falei com minhas colegas, e algumas delas, chateadas com o acontecido tbém pediram para sair. Madalena, Jacinta e Tânia (professora de Geografia) saíarm. A diretora ficou doidinha. Agora era tarde.

O triste de tudo isso é que nós éramos felizes e não sabíamos. Fomos para escolas centrais, consideradas 'boas', mas não tivemos (pelo menos no primeiro ano) aquele trabalho que fazíamos. Os professores e professoras dessas outras escolas não trabalhavam de forma diversificada. Era só aula de 'cuspe e giz '(1). E eu, acostumada a um trabalho diversificado, fiquei sem saber bem como agir. Até pq nessa nova escola, se a gente fazia alguma coisa diferente, vinha logo um professor perguntar se estávamos ganhando mais que eles...

Mas surgiu a oportunidade de lecionar no turno noturno (e eu precisava, pq para fazer uma especialização na UFS eles exigiam que estivéssemos em sala de aula no ensino Médio). nessa escola o Ensino médio era apenas no turno noturno. Fui para o noturno e encontrei outras colegas que tbém gostavam de diversificar. Me 'achei' de novo....

Estou nessa escola/turno até hj. Gosto bastante do trabalho que temos aqui. Sobre essa outra escola vou falar mais adiante. Mas adianto que à noite a gente trabalha direitinho...

Abaixo vão duas fotos dos meus 'anjos' do turno noturno em uma visita à Casa de Ciência e Tecnologia. Em pleno sábado à tarde...












Continuo falando com Jacinta, Madalena e Jenó. Mas bem menos. Nossas vidas mudaram, e não conseguimos nos encontrar.
Vou ver se nessas férias encontro com elas. Tenho saudades...

(1) Para quem não sabe, aula de "cuspe e giz" é a aula tradicional, na qual o professor fala (cuspe) e escreve no quadro (giz).