Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

O que é mais importante?

Para mim, gente é importante. Gente que ri, chora, que sente. Para mim viver é sentir.

Talvez por isso me preocupe com os sentimentos de meus alunos. E como crianças e adolescentes tem sentimentos exacerbados...

Bem, mas voltando às crianças: se vc trabalha em uma comunidade pobre sabe que seus alunos não vão usar tênis na escola. Usam chinelos. E às vezes as tiras quebram. Aí eles pedem um grampeador e 'consertam' o chinelo. Aprendi com eles que por trás de um aluno(a) com chinelo bem 'destruído' podemos ter um(a) criança brilhante. As roupas não dizem o que se é.

Mas essa é minha vivência. De mais de 20 anos em escolas periféricas, onde crianças às vezes não vão para a escola porque não tem o que comer.

Em uma das escolas nas quais trabalhei vi profissionais da educação mais preocupados com o tênis que a criança não usava (estava de chinelo) que com o caderno que não aparecia na sala.

Um professor reclamou na direção que um aluno estava sem tênis. Chamaram a mãe e perguntaram se ela poderia comprar. Para que o menino não ficasse diferente dos colegas. O menino apareceu com o tal tênis. Isso de usar tênis ou chinelo não me incomodava. Mas aquele menino não escrevia nada no caderno. Aliás nunca vi um caderno dele. Aí um dia, qdo eu estava meio sem paciência de ver a criatura sem copiar, perguntei: "Porque vc não copia? A resposta: "Por que não tenho caderno.". Aí eu disse: "Só isso? Se eu te der um caderno vc copia?". O menino disse que sim. Eu prometi levar o caderno. Isso foi numa sexta feira. Na segunda o menino perguntou do caderno (como não tinha saído o final de semana não havia comprado). Perguntei a ele se existia alguma coisa que ele não usaria em um caderno, como cor, desenho... Ele me disse: "Professora, qualquer caderno serve. Até rosinha se a senhora tiver em casa. Não tem problema não."
Já sabe que saí da escola e fui comprar o tal caderno. Comprei um de 12 matérias e com um carro na capa. achei bonitinho. Foi junto um kit: canetas, lápis e borracha. Quero ver agora não copiar!

Entreguei o caderno e o menino ficou feliz que nem pinto no lixo. Comentei com os colegas e eles disseram que o menino estava copiando. Realmente só faltava o caderno.