Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Lúcia


Lúcia era minha aluna na 8ª série, na primeira escola. Um doce de menina. Linda, calma, meiga. Quieta até demais... Mas não ia ser eu a reclamar de uma aluna por ser calma...
Só que um belo dia Lúcia resolve jogar vôlei com as colegas na quadra, no bendito horário do recreio (devia ser proibido).

O que aconteceu? Lúcia escorregou e caiu de cabeça no chão de cimento da quadra. Chegou na sala dos professores nos braços dos colegas, desmaiada.

Não apenas desmaiada, Lúcia tinha convulsões, tinha momentos que parecia que ia parar de respirar. Saía sangue da cabeça dela. Não havia tempo para pensar nada, ela precisava ser levada ao Hospital o mais rápido possível. 

O diretor pediu ajuda de uma professora (Lúcia era uma mocinha, melhor uma mulher indo junto para ajudar). Quem se apresentou, sem pensar? Um ponto para quem adivinhar... Lógico que fui eu. Falou em trabalho extra, não remunerado e complicado, pode contar comigo...

Saí tão apavorada da escola com o diretor e um aluno (o David, aquele que já falei antes) que nem bolsa levei...
No caminho, que parece durar séculos, a gente só ouvia a respiração de Lúcia. Em alguns momentos tínhamos a impressão que ela ia parar de respirar, e nada de chegar ao hospital.
Ao chegarmos lá, o diretor saiu correndo do carro, pegou Lúcia no colo e entrou Hospital adentro gritando por ajuda. Chegou um médico, que qdo viu o estado da menina encaminhou logo para exames e medicação. O diretor, depois que viu Lúcia acordando (ela foi colocado no soro e depois de um tempo acordou) disse que ia voltar para a escola para achar a família de Lúcia. Eu ficava.

Levaram Lúcia para fazer exames, ela vomitou, eu briguei com a enfermeira que queria fazer o exame enquanto Lúcia queria vomitar... Fizemos os exames, e ela ficou em observação. Qdo o diretor chegou, horas depois, veio com os pais de Lúcia. O médico veio e disse que nossa menina tinha sofrido traumatismo craniano com a queda. que a sorte dela foi ter sangrado. 
Lúcia estava bem, fora medicada e ia ficar uns dias no hospital. Deixamos Lúcia com os pais e voltamos para a escola. Já era mais de 20 horas. 
Eu estava exausta. E nem consegui convencer o diretor que tinha direito a folga no dia seguinte...

Lúcia precisou ficar um bom tempo em tratamento neurológico. 

Tudo pq, como disseram minha alunas: "ela nunca brincou professora, e quem não brinca não sabe cair."