Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Sabe a pesquisa: Armas na escola, qual o motivo?

Estou relendo algumas postagens (e corrigindo alguns erros de grafia). Então, qdo li a postagem sobre pesquisas, vi essa aqui: 1 - Armas na escola, qual o motivo?  http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/resumos/resumos/4273.htm

Lembrei que por causa dessa pesquisa me contaram um fato (não sei se verídico ou não), mas que achei interessante. Vou contar aqui como se tivesse acontecido comigo(até porque não lembro quem ou onde me contaram). E vou acrescentar uns detalhes. Acho que fica mais engraçado.

Armas na escola, qual o motivo?

Um dia entro na sala de aula e alguns alunos e alunas se aproximam dizendo que o aluno "X" está armado. Eu não acreditei. Uma turma do turno da tarde, com jovens de 13, 14 anos. Por que desgraça o menino estaria armado. Mas, para acalmar as criaturas que estavam visivelmente nervosas, chamei o tal aluno e perguntei se estava com alguma arma.O menino não se fez de rogado e levantando a camisa mostrou, na cintura, um revólver (se era de verdade ou não eu nem quis saber). Perguntei (a tal mania de perguntar tudo) porque ele estava armado na escola. Ele me respondeu que estava 'com umas tretas com uns caras' e eles podiam vir atrás dele. A arma era para sua segurança. Não tinha intenção de usar na sala de aula.

Ele ia explicando e na minha cabeça aparecia a 'visão do inferno': os 'caras' do lado de fora da sala, atirando pelas janelas (que eram baixas, na altura das carteiras) e ele (o aluno armado) do outro lado da sala (perto da porta) atirando de volta. No meio, eu e o resto da turma. Levando bala dos dois lados. Nem pensar!

Disse então ao aluno que na minha aula ele não ficaria armado de jeito nenhum! "Se vire. leve a arma de volta para casa, enterre, esconda. Não quero saber. Mas aqui vc não entra com ela."
O menino saiu e eu comecei a aula. Uns dez minutos depois ele volta. Perguntei da arma e ele disse que deixou com o diretor, que pegaria com ele na saída. Não acreditei muito que o diretor estivesse com a tal arma, mas o mais importante para mim é que ele não estivesse armado. Então pedi que levantasse a camisa (precisava ter certeza que o menino não estava mentindo). Não vi arma nenhuma.

Mandei ele sentar e continuei a aula. Na hora do recreio fui falar com  o diretor (ainda não estava acreditando que o menino tinha deixado a arma com ele). O diretor confirmou. Estava com a tal arma. Tava guardadinha no arquivo, que só ele tem a chave. Entregaria ao menino na saída. Era o diretor me dizendo isso e eu olhando para ele pensando: 'é doido, só pode!'.

O diretor, com anos de experiencia em escolas de periferia, me disse: "vc acha que esses alunos não vem armados para a escola? Muitos tem diferenças até com outros alunos daqui. Mas aqui é território neutro. Um não provoca o outro. Só que quando saem na rua, as coisas mudam. E uma arma pode dar uma sensação de segurança. É uma falsa sensação, mas não sou eu quem vai tirar isso deles."

Fiquei olhando para o diretor e pensando se eu teria coragem de fazer o que ele fez. Provavelmente não. Mas fiquei pensando se eu, como diretora, mandasse o aluno para casa, sem a arma. E se ele encontrasse com 'os caras', e fosse assassinado? Como me sentiria? Ainda bem que não sou diretora. É muita responsabilidade.